xororó du goias canta paixão de homem

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A história do matuto Jeremia, Num campo de futebol.


Nas origens do sertão
Tem muita coisa engraçada
Coisas que surgem assim
De qualquer coisa, dum nada.
Eu falo do meu reduto
Onde só tem cabra bruto
E de palavra firmada
II

Eu falo dum camarada
Que se chama Jeremia
Desses cabra inocente
Que na cidade não ia
Nem quando tava doente
Tomava um chazinho quente
E a dor logo sumia

III

Porem um certo dia
Precisô ir à cidade
Resgatar um documento
De sua propriedade
É que teve uma invasão
E pra não perder seu chão
Recorreu a autoridade
IV

Mais veja só que maldade
Um grileiro lhe assaltô
O pobre de Jeremia
Sem sua terra ficô
Trouxe o menino, a mulher.
E se pegou com a fé
Que tem em nosso Senhô

V

Voltou pro interiô
Para sua fazendinha
Vendeu chocalho, vendeu cela,
Vendeu bode, e galinha,
Vendeu as vaca, o jumento,
Porque o seu pensamento
Era vender o que tinha
VI

Bem cedo, de manhãzinha.
Era a vida diferente
Comprou logo uma casa
Bonita, muito decente.
Ficou meio abestalhado
Ignorante, coitado.
Quando via muita gente

VII

Mas mesmo assim comumente
Foi logo se adaptando
Sua vida na cidade
Estava só começando
Não pensava em desgraça
Metia era a mão na massa
E assim ia se virando
VIII

O menino ia estudando
Tava sempre muito alerto
Gostava de futebol
Já sabia o dia certo
Que o seu time jogava
E contente festejava
Com seu coração aberto

IX

Certo dia o esperto
Fez uma raiva a seu pai
De manhã comprou ingresso
O pai lhe disse “não vai”
-Você esta de castigo
Vai ficar aqui comigo
E daqui você não sai

X

Matuto que era o pai
Repreendeu a bobagem
E com aquilo na mente
Pensando só na imagem
De como era o futebó
Então resolveu ir só
Era fazer uma sondagem.


XI

O menino por sacanagem
O ingresso ia rasgar
O pai deu-lhe logo um bote
Temendo ir precisar,
Botou no bolso, e saiu.
Na hora certa partiu
E foi se certificar
XII

No momento de entrar
O ingresso ele entregou
Passou pela borboleta
E pra trás ele olhou
“Tai! Num deixei rasgar”.
Quando acabei de passar
O segurança rasgou

XIII

- Mas o caminho indicou
E fui logo me adentrando
Subi por uma escada
Com os outros fui andando
Lá na frente eu parei
De boca aberta fiquei
Somente observando
XIV

O povo ia chegando
Com camisas e bandeira
E eu sentado na minha
Só escutando a zoeira
Quando os menino entrava
O povo todo gritava
É o paimera, paimera!

XV
Eu fiquei meio cabrera
Sentindo medo da trama
Eu não via a paimera
E não entendia o drama
E pra onde eu olhava
Os meu zoi só avistava
Só um tapete de grama
XVI

Do outro lado a fama
É dum time afamado
Botafogo, Botafogo.
Desse jeito era chamado
Agora veja o programa
Tocar fogo numa grama
Eu acho muito arriscado

XVII

Depois dum troço apitado
Era os cabra choteando
Correndo atrás da bola
Tudo doido se matando
E era uma agonia
Aqui acolá caia
Ficava se lamentando
XVIII

Eu fiquei me martelando
Já doido pra ir embora
Pois tinha um cabra de preto
Brabo que só caipora
Mandador chei de razão
Se alguém botasse a mão
Ele mandava pra fora

XIX

Mais acho que nessa hora
Ele tava acomonado
Com os dois cabra na barra
Cada um de cada lado
Eles pegavam com a mão
Depois dava um chutão
E ele ficava calado
XX

O jogo já terminado
Eu fiquei só esperando
Pra vê se o povo saia
Pro campo ir aliviando
Pra baixar o excedente
Mas veja que de repente
Os cabra vinha voltando

XXI

E foi o povo gritando
Aquela mesma zueira
O mesmo tempo de novo
De novo a mesma besteira
Um corria, outro chutava.
Ali ninguém se cansava
Com toda aquela carreira
XXII

Eu só sei que a zoeira
Tinha hora que aumentava
Quando davam um chutão
E na barra a bola entrava
Ficavam todos gritando
Tudo doido festejando
Mas pra que? Se não furava.

XXIII

Eu só sei que ignorava
Porque nada entendia
Futebol é troço bom
Que até menino vicia
Foi quando eu me empolguei
Dei um pulo e entrei
Pra dentro da correria
XXIV

Pegar a bola eu queria
Veja que desfaçatez
Entrou logo a polícia
Eu contei dezesseis
Pra história terminar
Futebol eu foi jogar
Mas foi dentro do xadrez

Newton Campos
e-mail: newton.f@ig.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente cordel com uma história pra lá de bem humorada, parabéns! Desejo-te um FELIZ 2011 com muitas alegrias, sucesso,amor,saúde e paz. Abraços, Milla