xororó du goias canta paixão de homem

sábado, 13 de março de 2010

UM CASAMENTO MATUTO EM CORDEL


José Acaci


Por arte das trevalia

Um dia eu tava quentão

Saí mei dirleriado

Andano pelo sertão

Atrai de dançar um xote

Findei foi enchendo o pote

Lá no bar de Zé Rumão.

Dispois q’ueu tava melado

Muntei na minha jumenta

Catuquei nas anca dela

E fui no rumo da venta

A burra disimbestou

E a danada só Parou

Na porta da véia Benta.

Ainda in riba da burra

Sinti chero de panela

De bode, carne, canjica…,

De galinha cabidela…

Pensei q’ueu tava num sonho

Quand’eu vi um Santo Atonho

Pulas brecha da janela.

Foi antão q’ueu m’alembrei

Que naquela sexta fêra

Era o dia do casóro

De Zabé cum Zé Tonhera,

E que no meu vai e vem

Cheguei no Sítio Xerém.

Conheci pela portera.

Seu Zé Tenoro me viu

E mandou eu dermuntá…,

Puxou logo uma cadera

E dixe: -venha pra cá!

Cumê galinha torrada

Beber ceuveja gelada

Tumá cana e proseá!

Um cunvite cumaquele

Era tudo q’ueu quiria!

Era quinem se um pobe

Tirasse na loteria.

Galinha, bode e cachaça!

Inda mais tudo de graça!

-Pra mim foi meu grande dia.

Era noite de San’João,

De forró, milho e fuguêra

E o povo das redondeza

Abriro suas portera

E fôro tudo in jumento

Pra assistir o casamento

De Zabé cum Zé Tonhera.

Entonce o juiz de paz

Moço decente e honrado

Anunciou o casóro

E disse uns palavriado

Que era chei de doutorixe.

Mais ô meno o que ele dixe

Vou fazer um apurado:

“_Estamo aqui riunido

Pra mode fazer o casóro

Do fíi de Ontõe Conrado

C’a fia de Zé Tenóro

E pro ser gente de bem

Vai ser no Sitio Xerém

Invês de ser no cartóro.”

Virou-se pra Zé Tonhera

E foi preguntano a Zé:

-Quá sua naturalidade

Zé respondeu: -Cuma é?

Zé Tenoro se meteu,

E dixe: _Onde tu nasceu,

Cabeça de Batoré!

Zé dixe: Ara que pregunta,

Dessa assim ninguém merece.

Eu nasci na minha casa

Lá donde o riacho desce

Se tiver mais dessa mande

-Eu sou do Sítio Pau Grande,

Todo mundo me cunhece!

O Juiz de Paz virou-se

C’aquele jeito sereno,

Oiô nos zói de Zabé

Rabiscou e foi dizeno:

Donde a sinhora nasceu?

Aí Zabé respondeu:

-Lá no Buraco Pequeno.

O juiz se espremeu

E cumeçô a surrí

E dixe: _Diga de novo,

_Se adisponha a ripití.

Zefa dixe em tom ameno:

_Sítio Buraco Pequeno

É lá adonde eu nasci!

Zé Tenóro deu um grito:

_Deixe de pregunta e ande!

E o juiz dixe: Eu num caso

Nem que o dregolado mande,

Essa noiva ta dizeno

Que é do Buraco Pequeno,

Mas o noivo é do Pau Grande.

Desse jeito num dá certo

Escute bem meu apelo

Se o sujeito é do Pau Grande

Vai ser grande o pesadelo

Naquele bota num bota

Se ele botá descangota,

-Veja só que dermantelo!

Zabé cumeçô chorá

Melano a cara todinha…

O véi tirou a pexera,

Desembalou da bainha,

E gritou para o sujeito:

O sinhô tenha respeito

Que Zabé é fia minha.

Zabé foi limpar os zóio,

Sortô a mão de Tonhera.

Que aproveitou que Zabé

Estava inchugano as bera

Dos óio cas duas mão,

Se afastou da murtidão

E disparou na carrera.

Zé Tenoro nessinstante

Esqueceu-se do Juiz

E gritou: Fíi duma égua…,

Fio duma miritriz…,

Daqui você sai casado

Ou então vai ser capado

Pulo tronco da raiz.

E saiu a murtidão

Correno atrás de Tonhera

Uns cum pau, Ôtos cum peda

Ôtos cum faca pexera

Numa grande rumaria,

E Tonhera escapulia

Pro dento das quebradera.

Quano agarraro Tonhera

Dero umas dez chibatada

Qu’ele perdeu um sapato

E ficou cum as carça mijada

Truxero ele prum claro

Perto de Zefa ajuntaro,

E truxero a papelada.

Quando o juiz viu ca coisa

Estava ficano preta

Foi falar, mas desistiu,

Pigarreou, fez careta,

E dixe no pensamento:

Vou fazer o casamento

Antes que eu me cumprumeta.

E dixe: _Seu Zé Tonhera,

O sinhô qué se casar

Cum dona Zefa Tenoro

Pra nunca mai se apartar?

Naquele instante Tonhera

Sintiu a faca pexeira

No seu pescoço encostar.

Sentiu a ponta da faca

E lhe deu um farnizim,

Um trimilique nas perna,

Na barriga, um brubuim,

Cuma quem conta um segredo

Pulou pro riba do medo

E disbugaiou um sim.

O Juiz virou pa Zefa

E antes de cumeçar

Ela já gritou que sim,

Que quiria se casar,

Nessinstante Zé Tenoro

Dixe: Termine o Casoro

Que o povo quer forrozar.

O Juiz naquela hora

Teve um má prissintimento,

Mas resorveu preguntá

Ali naquele momento

Se lá no Sítio Xerém

Tinha pro lá um arguém

Que era contra o casamento.

Foi antão que ouviu-se a voz

De Xica de Ontõe Conrado

Que Dixe: Esse Zé Tonhera

Já é um home casado,

É casado em Goianinha

Cum Vera, uma prima minha,

Nas orde do delegado.

O Juiz dixe danou-se,

Pra quê que eu fui preguntar!

Zefa dixe: -Nesse caso

Tomém num quero casar.

Tonhera virou de lado

E dixe eu tô dispensado,

E agora vou me mandar.

E escapuliu correndo

Sem ninguém correr atrás…,

Zé Tenoro dixe a Zefa:

Por arte do satanás

Pode o céu dá um açoite,

Se tu num casa hoje a noite

Antonce num casa mais.

Zefa meio arrependida

Ficou num canto calada.

Passou a mão na barriga,

Alembrou das ecapada

Cum Zuca do veio Duda,

Lembrou que tava buchuda,

E resorveu a parada.

Afastou-se assim de lado,

Assubiu numa cadera,

E gritou: Eu era noiva

Mas num amava Tonhera.

Pra festa cuntinuar

Eu pretendo me casar

Cum quarqué um que me quera.

Eu dixe: – É cumigo mermo,

Vamo casar nessinstante.

O Juiz fez o casóro

O forró seguiu avante

E até no raiar do dia

Foi só festa e alegria

Daquele dia em diante.

Assim termina essa históra

Onde eu casei por acaso

Mas que deu foi muito certo

Nunca me trouxe um atraso

Vivo no Sítio Xerém

Levando chifre também,

Mas aí, … é outro caso.

Fim.

2 comentários:

POTYVERSANDO disse...

Bênçãos Poeta Acaci! Fico muito feliz em ler seu talentoso Cordel aqui, Abra as fronteiras do tempo e use e abuse da Internetpara divulgalos... O Mundo é maior que Parnamirim. Beijos no coração Poeta. Deth Haak " A Poetisa dos Ventos"

Kimberly disse...

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