xororó du goias canta paixão de homem
terça-feira, 21 de abril de 2009
MATUTO NO FUTIBÓ
(Zé Laurentino)
Zé Laurentino é um dos melhores poetas da literatura popular, e esta belíssima poesia faz parte de um dos seus tantos livros - POESIAS MATUTAS.
Hoje o pessoá do mato
já tá se civilizando
já tem rapaz estudando
p´ras bandas da capitá
já tem moça que namora
com o imbigo de fora
ediceta coisa e tá.
Mas essas coisas eu estranho
me dano e não acompanho
a tá civilização
até que a morte me mate
nunca eu fui numa boate
nunca vi televisão.
E este tá de cinema
eu num sei nem cuma é
se é home ou se é mulé
se vem da Lua ou do Só
um triato eu nunca vi
e também nunca assisti
um jogo de futibó.
É isso mesmo patrão
eu nasci p´ra ser matuto
viver que nem bicho bruto
dando de cumê a gado
eu só acho que sou gente
pruque um véi meu parente
disse que eu sou batizado.
Mais pru arte dos pecados
um fí de cumpade Chico
o fazendeiro mais rico
dali daquele arredó
cum preguiça de estudar
inventou de inventá
um jogo de futibó.
E no paito da fazenda
mandou botar duas barra
e eu fui assitir a farra
do lote de vagabundo
mas quando eu vi afroxei
e acredite que achei
a coisa mió do mundo.
Eu caboco lazarino
com doi metro de artura
os bracos dessa grossura
medo p´ra mim é sulipa
de jogar tive o parpite
e aceitei logo o convite
prumode jogar de quipa.
Me dero um calção listrado
e um pá de jueieira
também um pá de chuteira,
uma camisa de gola
e eu gritei arra diabo
eu já peguei touro brabo
e segurei pelo rabo
porque não pego uma bola?
Sei que o jogo começou
o juiz bom e honesto
p´ra começar era Ernesto
o nome do apitadô
que metido a justiceiro
prumode o jogo pará
bastava a gente chutar
a cara de um companheiro.
Bola vai e bola vem
um tá de Zé Paraíba
inventou de dá uns driba
no fí de Chica Brejeira
esse deu uma rasteira
que o pobre do matuto
passou uns cinco minuto
enrolando na poeira.
O juiz mandou chutá
uma bola contra eu
pruque o meu fubeque deu
um coice no Honorato
aí o juiz errou
pois se o fubeque chutou
ele que pagasse o pato.
Mais afiná meu patrão
não gosto de confusão
mandei o cabra chutá
fiquei esperando o choque
tanta força a bola vinha
que vinha pequenininha
que nem bala de bodoque.
E quando eu fui pegá a bola
me atrapaei meu patrão
passou pru entre meus braço
bateu numa região
que foi batendo eu caindo
espulinhando no chão.
O povo bateu em riba
Me dero um chá de Jalapa
uns treis copos de garapa
mai um chá de Quixabeira
esperei uma melhora
joguei a chuteira fora
e sai batendo a poeira.
E desse dia p´ra cá
nem mode ganhar dinheiro
não jogo mais de goleiro
nem com chuva nem com só
nem aqui nem no deserto
nunca mais passo nem perto
de um campo de futibó.
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