xororó du goias canta paixão de homem

quarta-feira, 1 de abril de 2009

intrevista




- A mãe de criação tomô eu nos colim e me ensinô benzê, que ela sabia. - Comenta D. Simiana. Nascidas no dia 10 de abril, o ano não sabem, mas acham que estão com 88 anos. Nasceram em Rio Verde Barriguda, perto de Gorutuba.

- Rezá foi Deus que me ensinô, mas reza de mau olhado foi minha madrinha de foguêra (São João), Dindinha Maria Clara que me ensinô: - Dois te pusero, três te tiramo quebranto, mau oiado, inveja, invenção... Deus te leva com os podê de Deus e da Virge Maria. Quando acabá, reza um Pai Nosso e uma Ave Maria em intenção de Nossa Senhora Aparecida pra desaparecê o quebranto e o mau oiado das costa e da frente da pessoa. Reza de engasgo foi Deus que me ensinô: “Senhor São Brás Bispo, tirai essa espinha da güela de fulano de tal" - reza fazendo uma cruz na garganta da pessoa. A minha fia Izabel foi eu que ensinei rezá. Todo mundo tinha fé na reza dela. Fiquei sem minha fia! Deus levô... é duro! (Dona Izabel, filha de Dona Simiana, faleceu em 23 de dezembro passado, vítima de uma complicação de costela quebrada)

- A perna com Izipra é facim de rezá: “Izipra, izipela, izipra izipra, má izipra, deu no tutano, do tutano deu no osso, do osso deu na carne, da carne deu na veia, da veia deu no sangue. Afasta izipra má prás ondas do mar, com o poder de Deus e da Virge Maria”.
Oferece um Pai Nosso e uma Ave Maria em intenção daquela pessoa. A izipra é uma ferida que dá na perna, fica vermêia iguar brasa em fogo. Impirge são caroço que aparece na pele, pareceno bôia de queimado. Dona Simiana não usa fazer garrafadas. Benze com ramos de São João, carne-de-vaca ou o ramo preferido, Pinhão Roxo.

-É três ramo prá rezá a pessoa. Se aquela pessoa ainda tivé com muito
quebranto, o ramo murcha, aí tira mais três e continua até ficá sarada.

- Hoje, meu senhô, ninguém mais qué remédio de mato, não. Eu fui criada só a pele e o osso. Doeci, febre malinada, minha mãe foi no mato, rancô manjericó, que é uma plantinha enterradinha no chão, carapiá, e cozinhô com semente de melancia, dessas que nóis come. É a água que eu bebia. Hoje eu tô aqui, vivinha e o resto do povo já foi...

Pra impirge o senhor péga fôia de São Jão grossa, cozinha e põe prá esfriá. Depois péga trêis ôio de São Jão, machuca e faz o sumo. Passa no lugá da ferida. É o remédio que eu sei. Eu tava com uma dor aqui na pá. Maria rezô, nada!... Machuquei a fôia do maxixe, fiz um chá. Quando eu acabei de bebê comecei a miorá. Depois fiz o sumo da fôia do maxixe com a batata da bonina. Cozinhei, bebi o chá... foste! Tô aqui, boazinha! Tanta gente no mundo que eu já rezei... Seu João já tinha ido inté em dotô de Belo Horizonte, com uma dô no pescoço e nada. Ele veio aqui. Eu falei: - Óia, eu conheci, tá c’as carne quebrada por dentro. Aí eu rezei. Rezei assim no pescoço dele: “São Cosme, São Damião, cura carne quebrada, junta desconjuntada, nervo torto. Assim mesmo eu cruzo (cruzando o polegar direito em cruz no pescoço da pessoa)”. Dispois ele veio aqui e me falô: - Dona Simiana, foi mesmo que tirá co’a mão. Tô curado! Eu também rezo à distância, eu quero sabê o nome da pessoa. Pro rumo de lá, pro rumo de Montes Claros, Belo Horizonte , até pro Rio de Janeiro. Com o ramo de cá. Rezo de cá. O ramo fica murchim do mesmo jeitim da pessoa tá de junto de mim. Minino, eu já fiz coi-sa. Um dia, finado Vicente Cibalena veio me buscá pra benzê uma porca dele. Porca grande.

- Dona Simiana, vai lá benzê a porca pra mim! Quando cheguei lá eu entrei no chiqueiro e a porca tava deitada de bruço, com as pernas prá trás e as mão pra frente. Não levantava nem pra bebê, nem comê. Finado Vicente tava pra arrastá ela pra jogá pro mato. Eu falei com a porca, quer dizê, eu falei primeiramente com Deus e depois com os bicho.

- Minha porca, se for docê morrê, não vai dizê que foi minha reza que matô ocê não! Minha porca, se ocê morrê é que ocê tá passada dimais!

O quebranto tava muito forte no corpo dela. Aí eu rezei a porca, rezei os quatro cantos do chiqueiro e vim me embora. Despois eu falei com o Vicente: - Vicente, a porca morreu? - Num morreu não! Despois que a se-nhora benzeu, quando botei decomê pros outro ela levantô, comeu, bebeu e ficô boa. Sarô! Despois ele veio aqui perguntá quanto era. Aí eu falei ansim: Não sô eu que tá curano não, é Deus! É Deus que tá curano!
Eu vô lá trocá minha reza por um pa-cote de arroiz, de fejão? Um dia uma muié quis me dá um pacote de fumo. Eu não quis não. Eu não rezo por isto não. Vô trocá minha reza por um paco-te de fumo? Eu não!!! Filha de Dona Izabel e neta de Dona Simiana, Reizinha nasceu no dia 6 de janeiro. Enquanto a parteira, Dona Piana, pegava a menina, o "Reis" cantava na casa vizinha. Assim que nasceu dona Piana disse:

- Num tem otro nome, tem que sê Maria dos Reis dos Santos!
Reizinha ainda não aprendeu a benzer, mas Dona Simiana falou que vai ensiná-la pra ver se ela aprende. Antes de sair ela me disse: “- Agora espera aí, que eu vô corrê um ramim no sinhô”, e terminou dizendo: - Prá ôio ruim... bota uma foinha de arruda dentro do borso da carça prá móde num pegá oio ruim. Nada encosta!

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