Aqui o cordelista Tárcio Costa brinca com a cultura religiosa do nosso povo que tem sempre um pezinho dentro e fora de todas as religiões. Essa poesia de cordel fala um pouco dessa mistura. Literatura de cordel pra santo nenhum botar defeito!
Dispertô sintonizado
Meu radinho na estante
Num culto discursativo
De um bão pastor protestante
Meu coração foi tocado
Por tais palavra elegante
Era seis da madrugada
Saltei da cama ligeiro
Cocei as borda do saco
Corri mijá no banheiro
Vesti as calça e as bota
E emborlsei algum dinheiro
Antes de fazê meu rasto
Arredei pro galinheiro
Donde escolhi duas franga
Encomenda do terreiro
Duas penosa bem preta
Pro pai véio do pardieiro
Meti a carroça na estrada
Em direção da cidade
C’o impaciência danada
E muita felicidade
Pois compânho a procissão
Desde minha mocidade
Toda sexta-feira santa
Corro trecho inté a igreja
Tomado pelo jejum
Por mais duro que isso seja
Sou católico de fé
É assim que cristo deseja
A primeira das parada
Foi na venda do esperanto
Donde tasquei uma cachaça
Que num é causo de espanto
Pois não havera ser pecado
Se um golinho foi pro santo
Amuntando doutra vez
Me alembrei do que esqueci
Os trêis conto de São Jorge
Que eu sempre lhe ofereci
Faça tu a mesma coisa
Causo passar por ali
Quem diz que tudo já viu
Tinha que tê viajado
Comigo naquele dia
Pra vê o sujeito engraçado
Que na mesma direção
Redava meio apressado
Tinha a cabeça pelada
E dançava em veiz de andá
Cantava umas moda estranha
Cantigas doutro lugá
Histórias dum tal de Buda
Que havera de reencarná
Me deu madeira de cheiro
Rezou pela minha paz
Tocou um sino de bronze
Mostrou que era bão rapaz
Toquei chaquaio nas rédeas
Deixando o amigo pra trás
Ele inté me alembrava
O filho duma doutora
Que falava com os morto
Era deles protetora
E com a ajuda dos mesmo
Operou uma professora
Eu mesmo já prometi
Umas cabeça de alface
Pra dona tão caridosa
Que carrega o amor nas face
E aproveitá da arribada
Pra tomá dela um bão passe
Mais voltando pra história
A sexta-feira em questão
Oceis já ouvirô falá
Do tal livro do Corão
Pois foi mesmo um livro desse
Que chego nas minha mão
Já no mercado da vila
Meia hora de chegado
O velho vendedor turco
Me puxando pro seu lado
Todo cheio de alegria
Me fez dele presentiado
Fiquei muito gradicido
Proteção é sempre boa
Mas arribei rapidinho
Pois num tava ali a toa
E quando se ta com pressa
Aí mesmo o tempo voa
Eta que tava bonita
Aquela reunião
Cantoria e luz de vela
Todo o povo em comunhão
Mais eu tive um bom motivo
Pra gostá da ocasião
Foi naquela caminhada
Paixão de nosso senhor
Que mudei de veiz a vida
Em meio aquele louvor
A madame benzedeira
Demostrou-me seu amor
Ouve bem meu testemunho
Hoje além de bem casado
Não tenho medo de nada
Pois tenho corpo fechado
Carrego no meu pescoço
Patuá despindurado
Minha mulher quem cozeu
Então firmo nesse instante
Não há nada nesse mundo
Que seja mais importante
Que ser aquilo que sou
Católico praticante
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